Triste Bahia, POBRE PAULO AFONSO
Por: Cecílio Almeida Matos
É com dó pobre cidade, que vejo-te afundar num buraco
Sem piedade.
Destes Homens, sós, lavam-te as nádegas,imundas
Mãos de bosta!
Dos teus filhos miseráveis, sóis coitados,
Alegam os políticos que são vós os intoleráveis
Filhos mansos de paz e guerra
Cuja sorte de fome leva
E em tua terra descreve a morte lerda
Dos acadêmicos mortais quedados em terra
Dou-lhes, então o presente corno, dito por não menos
Em coro o poeta.
Que Seja este o verbo e sonoro canto
Da poesia dele escrita aos prantos, eis que vos apresento
Paulo Afonso, escrita em versos ao poeta
Gregório e dela, amizade, nasce a
*A Cidade da Bahia!
Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado,
Pobre te vê a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh! se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
que fora de algodão o teu capote!
A BAHIA
Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos
Sentimo-nos confusos e teimosos
Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos.
Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.
· Gregório de Matos
· Gregório de Matos (1623 - 1696)
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