PROFESSOR ENSINA, ALUNO RELINCHA!
Por Cecílio Almeida Matos
Sentado na cadeira á direita estava o mestre, roto, barba por fazer, camisa esgarçada , chinela havaiana.Diante de uma classe de aluno entre 10 e 17 anos; acende um cigarro e começa a explicar....frisa logo no inicio da aula que ganha muito pouco e que não está ali pra educar aluno e nem proceder a educação domestica: - Esta deve vim de casa – retruca o jovem professor!
Olhando a janela, lá fora, o aluno estica a vista e percebe o início da fila para pegar o “lanche”; um inferno, um briga sem dó, cuja refeição disposta custa por aluno na cidade de Paulo Afonso, interior da Bahia, míseros R$0,22 (isso, vinte e dois centavos) por cabeça.
Aquele gado, em pasto, pretende ser educado, imaginem só! Talvez a diferença seja paga em míseras “bolsas famílias” que também eventualmente se distribui nas zonas rurais, desde que previamente “cadastrados” os humildes pais de família.
Novamente o aluno passa a mão por sobre o boné (daqueles que deixa você anônimo e com aparência “vesicular” de vagabundo),alisa a mochila e volta-se ao professor, que ratifica a afirmação: “...não estou aqui pra educar; educação doméstica vem de casa....” dá uma baforada no cigarro, alisa a barba por fazer e volta-se ao quadro negro (escrito ainda a giz)...
Num rompante de gargalhadas, recebe pelas costas umas cem dúzias de bolas de papel; volta o olhar para a caderneta de presença, olha o contracheque em cima do livro, onde se estampa o salário já com descontos de R$326,00 (trezentos e vinte e seis reais), contracheque de dois meses atrás, porque o salário do mês ainda não saiu.... Sorri o professor, tosse, escorre a garganta com um catarro amarelado e volta a escrever no quadro negro, a giz!
De costas para uma platéia de alunos ausentes, não se dá conta (ou não quer se dar) de que uma briga iniciou-se na sala de aula e que um dos alunos, puxou de dentro a mochila uma peixeira...
Continua a lecionar com uma grafia duvidosa e uma ortografia pior ainda... E pensa consigo mesmo: ‘... “Educação vem de berço, ensina-se em casa...”.
Quando termina a aula ainda de costa para a platéia é que percebe estendido no chão o corpo da criança, a diretora e a presença da Polícia Militar... Mais uma vez acende o cigarro, coça a barba por fazer, arrasta a chinela havaiana nos pés e pensa consigo numa legitima reflexão intelectual: míseros R$ 0,22(vinte e dois centavos) para o lanche por cabeça de cada gado..imaginem só! Que país é este, que cidade é esta? Onde a hidrelétrica repassa milhões de dólares para a prefeitura e não garante uma alimentação melhor para os alunos.
O “bom” professor se quer questionou o salário atrasado na sua vã filosofia....deixou essa minúcia de lado e foi “profundo” em sua reflexão...onde vamos parar?Paulo Afonso?
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