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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

USP está virando uma terra de ninguém

usp1 g 201111041 USP está virando uma terra de ninguém
As cenas de vandalismo, ocupação de prédios públicos, enfrentamentos com a polícia e o desrespeito à Justiça repetem-se todos os anos, tão previsíveis como o Natal e o Carnaval.
Os motivos podem variar de um ano para outro, mas os personagens desta zorra total são sempre os mesmos: parcelas minoritárias de estudantes, funcionários e professores, que transformaram o campus da Universidade de São Paulo numa terra de ninguém.
Estamos falando de uma comunidade de 200 mil pessoas: 5,5 mil docentes, 15,5 mil funcionários e 80 mil estudantes, além de 100 mil pessoas de fora que frequentam diariamente a Cidade Universitária em busca de suas atividades de lazer, educativas e culturais.
Desta vez, os revoltosos em busca de uma causa protestam, desde o dia 27 de outubro, contra a prisão de três estudantes de Geografia que a Polícia Militar pegou em flagrante fumando maconha.
Como acham que a Cidade Universitária é um território livre, sem lei e sem ter que dar satisfações a ninguém, as hordas radicalizadas ocuparam primeiro o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a popular FFLCH, onde estudei na década de 70, quando os estudantes lutavam contra a ditadura militar e enfrentavam a polícia sem capuzes em defesa da democracia.
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Em assembleia geral na última terça-feira (1º), por 559 votos a 458, a maioria dos estudantes reunidos em assembleia decidiu desocupar o prédio.
Mas a minoria derrotada não se conformou e resolveu invadir o prédio da reitoria, onde cerca de 150 estudantes continuam acampados infernizando a vida de mais de mil funcionários que não podem trabalhar. João Grandino Rodas, o valente reitor da USP, que desapareceu no meio da confusão, despacha agora em local ignorado.
No final da tarde de quinta-feira (3), a juíza Simone Rodrigues Casoretti, da 9ª Vara da Fazenda Pública, deu 24 horas de prazo para que os invasores deixem a reitoria, a partir do momento em que receberem a notificação, o que não tinha acontecido até as 8 h da manhã desta sexta-feira (4).
A liminar da juíza autorizou o uso de força policial para cumprir a reintegração de posse, mas isto não abalou as lideranças encapuzadas: em nova assembleia, na mesma noite, os estudantes decidiram continuar acampados no prédio da Reitoria.
Abrigados em grupos autodenominados Movimento Negação da Negação, Liga Estratégia Revolucionária e Partido da Causa Operária, estes seguidores de Bin Laden infernizam a vida não só de quem trabalha e estuda na USP, mas das cerca de 100 mil pessoas que circulam diariamente pela Cidade Universitária.
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Morei ao lado da USP por mais de 30 anos e acompanhei a progressiva degradação do campus, que registra um número cada vez maior de assassinatos, roubos e estupros, com a livre circulação de traficantes e o consumo de drogas a céu aberto, uma verdadeira "cracolândia" acadêmica.
O professor Grandino Rodas passa a maior parte do tempo brigando com a direção da Faculdade de Direito, que ocupou antes de ser nomeado reitor no governo de José Serra, e perdeu completamente o controle da situação.
Agora, os estudantes amotinados querem simplesmente a retirada da PM do campus da USP, como se fossem os donos do lugar, que é um patrimônio público custeado com os impostos pagos por todos nós.
Assim como acontece com os crimes de trânsito, o que fortalece os líderes da baderna é o sentimento de impunidade, já que não se tem notícia de qualquer punição após a repetição das cenas de violência que já fazem parte da paisagem da USP, a maior universidade da América Latina.
Nas três ou quatro palestras que fiz este ano na Cidade Universitária, a convite de professores e  alunos, chamou-me a atenção o grau de desinformação e de desinteresse da grande maioria deles, mais preocupados com a falta de vagas nos estacionamentos sempre superlotados.
Até quando estas cenas de velho oeste se repetirão diante da omissão do poder público?

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